O Catete é um exemplo desta inversão de valores1. Isto só foi possível porque, desde sua construção, o Catete pouco tinha a ver com a cultura do Império. Era, mais propriamente, parte de uma cultura que prenunciava a derrota da decadente aristocracia de berço (o Imperador e os seus Príncipes), suplantada pela burguesia abastada que ascenderia ao poder com o advento da República. Por esta razão, o Catete, e tudo aquilo que ele representou, foi apropriado pela República como o verdadeiro símbolo do seu poder.
Os elementos decorativos não entram em contradição com os elementos arquitetônicos tradicionais que se estabelecem para a representação do prédio. Nessa identificação "diferente" justifica-se a presença das esculturas e das águias na cornija, mostrando que ali acontece alguma coisa diferente – na verdade, a riqueza, tão rara no resto da cidade.
Essa riqueza serve também para criar um mundo de sonho no interior, demonstrando: a apropriação do passado como raiz que sustenta culturalmente a nova riqueza; a nova cultura assimilada subitamente pelo proprietário; a sua capacidade de convidar os melhores arquitetos e artesãos do exterior para as construções e desenhos, impressionando os convidados e o resto da sociedade com uma arte que ninguém mais tem na cidade; a identificação com o progresso e a modernidade, que aparece no uso da escada e dos elementos decorativos em ferro. Isso evidencia não somente a sua categoria social e econômica, mas também a maior complexidade das funções que se identificam e diferenciam através do diferente nível de representatividade marcada pela decoração.
Daí a carga decorativa dos salões principais, os espelhos, os dourados (como símbolo da riqueza). As cores ligam-se às pedras preciosas, ao luxo, à sofisticação.
A moda também passa a elemento da modernidade: por exemplo, o salão pompeano tem relação com as descobertas das escavações daquela cidade. O salão mourisco, com seu exotismo, é relacionado à conquista da Argélia pela França, no século XIX. Busca-se o exotismo - evidenciando a presença da China e do Japão na arte do século XIX - como livre complemento dos estilos clássicos e demonstração da liberdade de escolha.
1Em 1883, Carl von Koseritz, referindo-se ao palácio do Catete, escreveu: "Um Nova Friburgo constrói para si um palácio por 8.000 contos, ..., verdadeiro palácio de fadas, e D. Pedro II vive num par de casas velhas...".
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